A transformação digital alcançou todos as faixas etárias, inclusive os idosos. E com o crescente uso da tecnologia entre os mais velhos, os cibercriminosos vêm silenciosamente criando brechas para a exploração digital dessa população por meio de golpes, fraudes e engenharia social. Nos últimos anos, o número de golpes virtuais envolvendo pessoas idosas disparou em todo o mundo. No Brasil, essa realidade é especialmente alarmante: de acordo com dados de uma pesquisa da FEBRABAN, a Federação Brasileira de Bancos (2024), 42% das pessoas mais sucessíveis a cair em um golpe, são idosos.
Com a popularização do WhatsApp como ferramenta principal de comunicação, somada à crescente digitalização de serviços bancários e de saúde, os idosos se tornaram alvos preferenciais para cibercriminosos, transformando a inclusão digital da terceira idade em uma inclusão rodeada de vulnerabilidades.
Neste artigo, vamos entender por que isso acontece, quais os golpes mais comuns e o que pode ser feito para mitigar os riscos de golpes à terceira idade.
Por que os idosos tem esse perfil de risco?
Há vários fatores que tornam a população idosa mais vulnerável a ataques digitais. Entre os principais:
🔸 Baixa familiaridade com tecnologias digitais: Muitos idosos começaram a usar smartphones e aplicativos recentemente e não dominam conceitos básicos de segurança digital.
🔸 Adoção tardia de tecnologia: A população da terceira idade não cresceu com a Internet e só passaram a usar dispositivos digitais e serviços online após a pandemia do Covid-19, por necessidade de comunicação e acesso aos serviços.
🔸 Maior propensão à confiança: A confiança excessiva nos idosos em acreditar em promessas de anúncios e a tendência em tornar verdade tudo o que é veiculado nas mídias, acaba tornando-os mais vulneráveis à vista dos golpistas.
🔸 Acesso a recursos financeiros: Muitos aposentados têm acesso a pensões, aposentadorias ou economias acumuladas, o que os torna financeiramente interessantes para fraudadores.
🔸 Maior sensibilidade emocional: Golpes exploram emoções como medo, urgência ou afeto, como mensagens de filhos pedindo ajuda ou ameaças de bloqueio de conta.
Principais fraudes digitais em que os idosos costumam cair
A engenharia social, prática de enganar as vítimas através de uma comunicação persuasiva, é um vetor de ataque muito comum de ser utilizado contra pessoas que não possuem rico conhecimento em segurança digital.
Abaixo, os principais golpes que afetam a população idosa:
1. Golpe do perfil clonado no WhatsApp
O fraudador clona o número ou se passa por um familiar e solicita dinheiro via Pix. A linguagem emocional e a urgência são os gatilhos psicológicos mais usados. A vítima, acreditando que está ajudando um filho ou neto, realiza transferências imediatas.
2. Falsos atendentes de operadoras ou serviços públicos
Cibercriminosos ligam ou enviam mensagens alegando necessidade de “atualizar dados”, “verificar movimentações suspeitas” ou pedindo por confirmação de dados ‘’por segurança’’. Caso a vítima forneça dados como CPF, senhas e números de cartão, o resultado é o vazamento de informações sigilosas e a perda do controle da conta.
3. Golpes de falsas compras ou promoções
Sites falsos ou mensagens de WhatsApp oferecem produtos com “descontos imperdíveis”, como uma das premissas utilizadas pelos criminosos. O idoso realiza o pagamento da compra falsa e nunca recebe a mercadoria, ou pior, instala um aplicativo espião e clona o cartão da vítima.
4. Instalação de apps falsos
Links enviados por WhatsApp ou SMS levam ao download de aplicativos bancários falsos ou malwares que espelham a tela do celular em tempo real.
5. Phishing
E-mails ou mensagens com aparência de bancos, INSS ou operadoras de saúde, induzem a vítima a clicar em links maliciosos ou fornecer dados sensíveis, como senhas ou tokens.
Um caso real no Brasil
Um caso emblemático ocorreu em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, em um período de quase 2 anos, entre 2020 e 2022, quando uma idosa de 74 anos perdeu mais de R$ 200 mil ao ser enganada por um golpista que se passou pelo ator Arnold Schwarzenegger. De acordo com informações do G1, a vítima acreditava que seria ressarcida pelo suposto após fazer os depósitos de dinheiro. Um dos gatilhos emocionais utilizado pelo criminoso para aplicar o golpe, foi de que o suposto estaria passando por necessidade e prometia para a idosa que ela seria reembolsada. Chegando até a vender a sua casa, o carro e realizando empréstimos, a vítima chegou a perder um total de R$ 238,5 mil.
Além do impacto financeiro, essas fraudes causam traumas psicológicos severos. Muitas vítimas relatam sentimentos de vergonha, culpa e medo de continuar usando tecnologia, agravando ainda mais o isolamento social.
Conclusão
A luta contra fraudes digitais não é apenas uma questão de tecnologia, mas de cidadania. Não se trata apenas de mitigar riscos — mas de garantir o direito à inclusão segura no mundo digital, para qualquer pessoa de qualquer idade.